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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Ser negro é um empecilho na hora de encontrar um emprego?

Algumas pessoas consideraram que as empresas multinacionais têm discursos de ação afirmativa em relação à questão racial, mas na prática pouco fazem para a concretização dessa política


A comemoração do Dia da Consciência Negra é oportuna para comentar uma pesquisa sobre a discriminação racial nas organizações, de minha autoria. As práticas discriminatórias nem sempre são deliberadas e não partem de políticas ou filosofias empresariais, mas estão presentes na herança cultural de toda uma sociedade, em todos os níveis e classes sociais. As organizações em seus estatutos ou políticas formalmente escritas não explicitam tais atitudes, mas as pessoas que as dirigem ou mesmo aqueles que detêm algum poder respaldado pelas próprias normas organizacionais, cuja interpretação lhes assegura algum nível decisório, podem em algum momento, utilizar critérios pessoais que resultam em exclusão por motivos raciais.

Nessa pesquisa, em que foram entrevistados gestores de recursos humanos, observou-se que havia práticas discriminatórias na maioria das empresas. Os relatos explicitam de modo inequívoco a presença na sociedade de uma herança cultural repleta de preconceitos, percepções equivocadas e petrificadas sobre a existência de uma hierarquia entre os grupos humanos. Outro dado que merece destaque é a percepção de que o estrangeiro compactua com esse estado de coisas, quando pode ser apenas um preconceito transferido para o outro, ou a idéia de proteger o outro contra aqueles que são considerados indesejáveis. Um dos depoentes afirmou: “Você sabe como são os franceses...”, em relação à ideia de que os franceses são etnocêntricos e que não gostavam de pessoas negras. Outro se preocupava com a possibilidade dos diretores alemães não aceitarem uma cozinheira negra cuidando da sua comida. Esses preconceitos estariam na mente dos próprios brasileiros, contaminados por séculos de discriminação em relação ao outro, decorrência de um passado escravista. Evidentemente não se tem a pretensão de excluir os estrangeiros de qualquer possibilidade de práticas racistas, mas considerando a lógica empresarial e os pressupostos da racionalidade administrativa, parece possível que essas questões seriam pouco relevantes para os resultados organizacionais em outro país.

Em princípio, pode-se descartar a relação entre práticas discriminatórias e a origem da empresa, mesmo que isso possa ocorrer de forma isolada. Alguns depoentes consideraram que as empresas multinacionais têm discursos de ação afirmativa, mas na prática pouco fazem para a concretização dessa política. Outros entendem que as empresas brasileiras são mais abertas do que as multinacionais, não criando obstáculos à contratação de afrodescendentes em seus quadros, mas admitem que, em alguns setores mais tradicionais da economia, isso não se concretiza.

Outra questão relevante é a “boa aparência”, uma metáfora que pode estar ocultando um profundo preconceito com relação ao outro. Seria ilusório pensar que o recrutamento de pessoal ao receber uma solicitação de funcionário que mencione “boa aparência” consideraria a possibilidade de contratar o diferente, o “outro”. Os meios de comunicação impõem um padrão estético à sociedade, que mesmo sendo multiétnica, acaba incorporando esses valores.

Entretanto, é preciso ressalvar que muitas organizações vêm adotando ações afirmativas, principalmente as grandes corporações multinacionais, que por estarem instaladas em várias partes do globo e frente a frente com a diversidade cultural e étnica dos países emergentes, consideram essas ações como necessidade estratégica, para sobrevivência num mercado globalizado.

Convém, também, que se diga que a designação “Dia da Consciência Negra”, não contribui para a harmonia das relações raciais no Brasil. Mais adequado seria a comemoração do “Dia da Igualdade Racial”, que indicaria um esforço para que todas as formas de discriminação fossem erradicadas entre nós.


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